Abyssus abyssum invocat

Talvez o ponto máximo dessa criação seja justamente o entendimento que para uma vida plena basta apenas aceitar que uma vida já é o suficiente.

Abyssus abyssum invocat Abyssus abyssum invocat

Profissão de fé

O peso do crucificado é a medida do sofrimento por todos os seus pecados. Sentia o mundo se distanciar a cada conta rezada pelos seus. Pesava ele cerca de trinta talentos: o peso de Judas.

Profissão de fé Profissão de fé

Três ceguinhas

Escuridão: escuro do escuro do escuro. Preto no preto no preto da etrinidade das turvasnegras seispupilas ocas pareadas para sempre. A pessoa é para aquilo que nasce.

Três ceguinhas Três ceguinhas

ένδοξο θάνατο

Como gados aguardando o momento inclemente do abate estancamos no tempo, talvez esta seja a hora das nossas vidas, o ápice de nossos destinos mortais...

ένδοξο θάνατο ένδοξο θάνατο

Glamour

Da perdição da menina-moça ao claustro vazio da puta-velha, apenas a aceitação de um destino dominus.

Glamour Glamour

18 de abril de 2008

Um estranho caído


Vi um homem estendido no chão da rodoviária. Muitos passavam apressados pelo local. Num primeiro momento achei se tratar de um atropelamento, que um daqueles ônibus com seus motoristas ensadecidos pela pressa dos horários a cumprir passou por cima do pobre coitado que ali, de uniforme de camisa e calça azul desbotada aparentava ser um motorista ou cobrador.

Atrás do ônibus, o corpo inerte; ao derredor, um apinhado de curiosos e um bombeiro de pé, impassível. Como que pode um bombeiro nada fazer diante daquilo? – indignei-me em silêncio. Imaginei que, por não haver sangue no local ou no corpo, o pobre do homem tivesse sofrido um enfarte fulminante e caído ali mesmo estatelado, em meio a toda sorte de imundices da rodoviária de Brasília, sobre o asfalto quente atrás de um ônibus velho qualquer. Uma morte triste e desgraçada, atrapalhando o ir e vir das massas insensíveis e sempre atrasadas. Uma morte de um homem qualquer, em meio a desconhecidos, num lugar imundo e em circunstâncias sem importâncias.

Um diálogo mais que possível entre dois transeuntes costumazes da rodoviária noutro dia:


- Quem morreu ontem?
- Não sei... Alguém conhecido meu? Diga-me, por favor!
- Não, um homem na rodoviária...
- Ah, não lembro... Como foi?
- Normal.

Mas o homem se mexe. Na verdade sua mão procura algo. Fico feliz por ele não estar morto. Fico grato pelo bombeiro que chamou e aguardava o resgate. Fico aliviado com a ambulância que sobe pela calçada a cortar caminho.

E o semáforo fica verde, e eu prossigo para as minhas escolhas, pagando os seus preços, sem medo do fim que inevitavelmente virá.

Mais adiante, cá com meus (vários) botões, refleti melhor o quão trágico carreguei o ocorrido :


Dizem que morrer é uma tragédia. Bobagem! Acredito que não saber viver é que é trágico e que morrer deve ser sempre considerado um fato natural, mais do que certo e inevitável. Mas veja bem, com isso não digo que uma morte bestial e brutal num acidente de trânsito é algo natural. De modo algum! Explico: a morte é sempre natural, mas as condições e circunstâncias que vitimam as pessoas é que são anormais ou trágicas. São as pessoas que fornecem adjetivação à morte.

Bem, de qualquer jeito continuar vivendo mesmo quando não se sabe ao certo o porquê é sempre a melhor das escolhas que podemos tomar. É revigorante sabermos que sempre temos escolhas e o que nos impede de realizá-las são as nossas próprias vontades diante das conseqüências das nossas decisões. Viver é complicado, sem dúvida, e morrer é por demais simples. Viver é construir possibilidades e pagar o preço por poder escolhê-las.


* Texto de Roberto W.

Um comentário:

  1. ei bunito, veja as fotos do meu casamento :) to indo semana que vem pra Califa :)

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